Yonbi.

Tinha caminhado por vários corredores estreitos. As paredes sólidas eram cinza e pareciam estar mofadas, talvez por causa do terrível odor que o local exalava. Sinais estranhos se estendiam pelos longos corredores que por sinal, pareciam nunca ter fim. As marcas me lembravam de espirais... Eram espirais. Diversas corridas, aumentando o pique em determinadas situações; parecia nunca chegar, estar se distanciando a cada passo. Um alarde corriqueiro surrupiava sua atenção, tão pouco dosada. Goteira? Pingos de água estavam caindo. O som; foi o que segui. Os verdadeiros túneis pareciam estar me carregando até o final, quando somados com meus sentidos. A água morna tremulava conforme eu caminhava boquiaberto. Seu nível? Beirava meus tornozelos. Uma criatura de proporções monstruosas. Seu pelo cálido cintilava acentuado a uma fonte de luz cuja qual eu não conseguia avistar. Em resumo era uma besta bípede vermelha e gigante. Um portão partia a sala ao meio, mas não parecia forte o suficiente – nada parecia – para segurar aquela fera.

- Você finalmente me achou, não é? – Sua voz ecoava e eu pude sentir a massa de água tremular ao redor de meus pés. Ele era consciente e conseguia falar. Apesar das consequências notáveis de sua simples fala, seu tom parecia sereno. – Eu sou a besta que reside nesse seu corpo frágil e sensível, nesse pequeno coração. Nessa alma vaga e fútil. Nessa cabeça oca. – Divertia-se; ele estava rindo às minhas custas.

- Fala de mais para quem está preso atrás deste portão! – Meu tom de voz poderia parear seu modo de falar. Cogitei ter exagerado e regredi temeroso. As vibrações novamente; seria o meu medo? Meu corpo estava tremendo tanto quanto eu pensava? Um homem como eu não deveria sentir medo, não podia me dar este luxo. Mas se eu pudesse olhar meu rosto, talvez notasse um vermelho destacar-se do suave embranquecer de minha pele. O grande herói da Vila Oculta da Névoa, destruidor da grande potência, Konoha. Como poderia tremer uma só criatura depois de derrotar exércitos? Poderia devolver cada vida que tinha roubado para ter aquela fera debruçada sobre meus pés gélidos.

As nove feras, o conjunto de almas mais poderosas que já circularam pelo mundo, almas, criaturas, armas. Eram como as nações as enxergavam, armas vivas. Seus sentimentos e vontades? Nem se quer sabiam que existia. De certa forma, podia imaginar o motivo de tanto ódio, de tanto rancor. Trocando de corpo como se trocasse de roupa. Parecia até mesmo... Eu. – Eu entendo que tenha raiva dos humanos, eu também tenho, raiva de mim mesmo. Como você, eu troco de corpos. Já me é algo corriqueiro, é uma necessidade, eu preciso disto, ou morro. E a cada vez que o faço me fortaleço... Mas você, olhe você... É uma arma carregada, onde trocam o portador cada vez que está morrendo. Uma bomba que carregam nas mãos e tem que ser detida a cada vez que explode. - Desabafava, sabia como era e esperava uma reação positiva por parte da criatura.

Lágrimas escorriam pelo rosto colossal de Yonbi. – Me chame de Son Goku, garoto. E se puder... Ele balbuciava. Sim, eu sei. Removi o selo que nos separava, que distanciava duas almas por iguais, os dois pedaços que formavam um jinchuuriki. E era isto que eu era agora. De imediato me senti mais forte; mais confiante. Não era mais como era antes e a cada minuto me sentia mais poderoso. Um ser completo, uma arma carregada. No final das contas, éramos amigos. Eu não o viria debruçado sobre meus pés, mas por igual aos meus ombros. Atingi um alvo além da minha meta.