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| Assunto: [FANFIC] Garran, O Bárbaro! 16/1/2014, 17:10 | |
| A montanha é carregada de grande energia espiritual em seu interior e é uma fonte de paz e segurança para os monges que construiram templos em seu topo. Ao envolto da montanha, vivem os bárbaros, um povo selvagem e orgulhoso, com uma rica cultura semeada em sua mente e a presença de seus ancestrais está em cada um dos seus traços. Em um ponto distante, num país que poderia existir do outro lado dos mares - mas infelizmente não é a realidade para os pacifistas - procura conquistar todo o continente, e atualmente é controlada por um espiritualista poderoso que deseja com toda a força de sua alma - ou melhor, de suas almas - A Montanha. Apesar dos bárbaros não estarem envolvidos com A Montanha, suas terras férteis seriam tomadas por exércitos devido à proximidade com o local, o que encareceria o terreno. Suas esperanças jazem sobre os ombros largos de um garoto selvagem que cavalgará até o outro lado do continente, galgando cidades e exércitos atrás do apoio de outra tribo aliada, enquanto seus parentes e amigos pensam que desertou covardemente ao descobrir sobre a batalha que teria pela frente.
As nuvens sangravam e o sol deleitava-se da maciez encontrada no solo fértil que se estendia por quilômetros. Entardecia e o sol se punha atrás das montanhas íngremes, enquanto o jovem bárbaro observava a mudança com seus olhos estreitos, perscrutando todo canto que a penumbra cinzenta o permitisse. Ele estava completamente absorto em seus pensamentos, caso o contrário teria notado os gigantes que transpassavam as defesas da sua aldeia, três homens, enquanto o do meio se arrastava em passos trôpegos sobre a terra vermelha batida que formava uma trilha entre as ocas e cavidades de montanhas que habitavam. O homem à sua esquerda, fornecia-o apoio, tendo o braço grosso como um tronco de carvalho envolto sobre seu ombro igualmente largo. Aqueles eram os representantes da aldeia, com seus couros de animais ao redor da cintura e espadas largas a tinir contra o que quer que se chocassem, eram Os Três Irmãos, Halaberd, Gruchac e o ferido atendia por Arlavoc. Todos ostentavam cabeleiras e barbas compridas, grisalhas prematuramente por fatores genéticos presentes na maioria dos habitantes da vila, e no manco vinham em anéis foscos de aço, em círculos que substituíam as tranças usadas por seus parentes. Outra meia dúzia de homens seguia logo atrás, trazendo em seus braços igualmente fortes, mas inexperientes a caça do dia, um javali ostentando quatro ou cinco metros de presas ameaçadoras, mas com uma imensa ferida em seu crânio.
Os guerreiros bárbaros do norte não eram sábios, mas ricos em cultura. As provações deles começam na infância: esfolando feras ferozes, escalando penhascos esbatidos pelo vento e carregando armas grandes o suficiente para fazerem com que um soldado do sul choramingasse. Os gritos de guerra soavam por toda a aldeia, mas o tom enaltecia a vitória eminente, quando uma única criatura enfrenta o mais bravo dos combatentes, o rapaz reconheceu de imediato o que aquilo significava e brandiu sua espada de folha larga, mesmo sabendo que não poderia ser visto ou cortejado pelas jovens da aldeia, que se encontravam afastadas demais para presenciarem sua bravura ao empunhar uma espada. Num salto, galgou a rocha sobre qual se encontrava e pousou suavemente sobre a lama endurecida, correndo na trilha, acompanhado unicamente pela arma em sua mão direita. O seu coração subiu à boca quando viu seu pai mancando, mas tinha consciência de que não poderia ser nada sério. Mesmo em seus dezesseis anos, o rapaz já ostentava os seus dois metros de altura, com ombros largos e membros fortes, músculos rígidos como pedra, mesmo com a incrível semelhança ao seu pai, seus cabelos eram negros como cobalto e ele os mantinha curto até que um rito de passagem o considerasse um homem formado e finalmente poderia assumir o seu posto como líder da aldeia, mas isso só aconteceria no falecimento do seu pai.
Todos os olhares estavam postos sobre a caça largada e empoeirada sobre um monte qualquer de feno que preparavam para manter os alimentos sem que estabelecessem contato com o solo, até que um monge em disparada alcançou os portões. O homem que já “corria” para alcançar seu filho, deu meia volta e abriu de bom grado a passagem para o ser pequenino, de aparência inofensiva quando posto ao lado de qualquer outro dos combatentes, ele era esguio e vestia um manto cetim, com uma faixa de seda amarelada ao redor da cintura, presa sem qualquer nó aparente, a forma como era colocada instigava curiosidade em Garran, que nessas alturas havia esquecido a caça, seu pai e o machucado que havia sido causado à ele. O homem careca e pequeno apressava-se, tentava manter-se calmo como os monges deveriam, contudo o seu queixo frágil e trêmulo demonstrava o medo que os selvagens lhe causavam, não estaria ali se não fosse de suma importância, e da melhor forma possível, reproduzia no idioma comum ─ Lord Shannan, conhecido como Spelloyal O Conquistador, caminha com uma tropa para cá, nós monges supomos que para fazer o reconhecimento do terreno ─ ele tentava ignorar o odor fétido que a ferida da besta ao seu lado exalava, mas não conseguia desempenhar esse papel com facilidade ─ poucos sabem, mas ele é um espiritualista poderoso e desde os primórdios da existência do seu culto, eles buscam essa montanha, desta vez como líder político ele possui capacidade para toma-la, temo que todo o seu território será devastado conosco se não tomarmos providências. ─ Concluiu, tentando manter um tom suave e não parecer ofensivo ou agressivo, temendo ser devorado numa panela, como companhia ao porco, duas ou três vezes enquanto falava, procurou o colar com medalhões e escritas desconhecidas aos selvagens, caçando a paz que apenas os espíritos benignos o proporcionavam ao toque. Arlavoc, o líder, não era bom no idioma comum, então apenas assentiu e virou as costas, ciente de que todos ao seu redor também participaram da conversa como ouvintes.
Não o seu filho, ele não ficaria lá por mais tempo do que o necessário para tomar grandes conclusões, e em tempos passados seu avô teria tido uma atitude semelhante, o mesmo avô que morreu no dia do seu nascimento, no dia em que seu pai se tornou um homem e ele veio ao mundo, a alma do ancião teria sido transferida à um jovem que carregava a mesma marca de nascença em seu tornozelo. Garran era corajoso, e estava disposto a se tornar um homem, mas sabia que a única coisa que poderia fazê-lo governar ao lado do seu pai o maior povoado bárbaro da história, era realizar um ato heroico, tal como seu avô havia feito ao galopar em um javali adestrado campina abaixo e obliterou o bando de desertores que tentavam tomar o reinado do seu pai, o que ficou conhecido como o maior ato já presenciado pela tribo. Podiam ser selvagens desprovidos de um modo eficaz de governo, mas era um povo imenso. Escurecia e seus olhos castanhos se adaptaram facilmente à escuridão, enquanto o javali que Garran agora montava, conduzia desorientado em piscadelas constantes. Embora fosse grande, as árvores engoliam-no na imensidão de troncos e galhos farfalhantes, balançando com a brisa suave da noite. Havia sido inteligente o suficiente para não se despedir, pois sabia que seria impeço por guardas tão grandes que o fariam parecer uma criança perdida. Preso à sela primitiva do javali, vinham providências para passar uma semana em viagem, água e frutas, fora o que poderia recolher no caminho e os acessórios necessários para acender fogueiras. Sentia repulsa por roupas em excesso, então cobria apenas a cintura, como todos os outros membros do seu povoado, com uma espada presa à cintura, mesmo sem o conhecimento dos grandes ferreiros, as armas dos bárbaros eram abençoadas e mostravam potencial superior ao dos guerreiros comuns.
Um cavalo pequeno trotava nas sombras, cavalgado por uma figura de silhueta esguio e careca, tal como o homem que visitava-os, mas o canto dos pássaros, o som produzido pelo vento contra as árvores folhadas e o rapaz sobre o javali gigante – principalmente o rapaz sobre o javali gigante – impediam que o barulho dos cascos fossem notados. Se tratava de Adoroar Fletcher, um dos monges mais odiados pelos seus irmãos, embora sua doutrina pregasse contra o sentimento da raiva ou o ódio, até mesmo o preconceito que sentiam pela paixão que o garoto tinha por pelejas. De pequena estatura, não teria mais que um metro e sessenta e armava-se com um daibo proporcional, adornado com símbolos e escrituras antigas que não poderiam ser notadas na escuridão. Prosseguia atrás do homem, afoito para aborda-lo conforme traçavam a floresta que em pouco sucederia ao capim alto e quebradiço, onde poderia ser notado com mais facilidade. Quando pensava em desistir e tomar o rumo em direção ao templo, onde seria acolhido com sermões, olhava para as estrelas, cintilando e clareando os céus negros como um breu, ocasionalmente cobertas por nuvens escuras, mas logo retornavam com seu brilho e refletiam em sua careca, sabia que Garran não fugia, mas buscaria auxílio dos parentes distantes no outro lado do continente, de onde poderiam massacrar o exército de Lord Shannan, que estaria posicionado entre fileiras de guerreiros em berserker, mas até lá, vagavam sem rumo. |
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