Dance of the Fire
Uma miscelânea de cores tomava conta dos céus de Villoreaur naquela noite. A neve caia, fraca e graciosa como sempre, pousando sobre os corpos mortos e mutilados. Um garoto, sentado no canto de uma casa escura, esperava o fogo se afastar.
"Me deixem em paz!". Queria gritar, mas seu corpo estava em choque e sua voz não passava de sua garganta. Seus olhos azuis, borrados de sangue, vidravam sobre os corpos de seus parentes. Seu cabelo, que um dia fora tão limpo quanto os cristais das terras de Gunyres, estava tão sujo quanto jamais imaginara que um dia ficaria. Deveria ser racional, mas sua mente se recusava a expressar de maneira clara seus pensamentos, mostrando-lhe apenas aquilo que não queria ver novamente. Se sentia sozinho, mesmo que não estivesse exatamente tão abandonado. As casas, que um dia serviram de lar para os habitantes daquele pacífico local, agora guardavam o fogo que tomava conta da cidade.
"Oque querem de nós?". Finalmente conseguiu se perguntar. Uma lagrima escapou, caia tão graciosamente quanto uma pena.
─ Ouviu aquilo? ─ Uma voz rude se manifestou ao toque da minuscula lágrima sobre o piso de madeira. ─ Um som. ─
A criança queria mais que tudo em sua vida poder correr, correr, correr e correr, o mais longe possível. Mas suas pernas não se moviam, tão quanto sua própria face não conseguia expressar qualquer sentimento que não fosse o medo que sentia.
A porta se abriu e a luz invadiu a escuridão. ─ Veja só que peculiar! ─ A voz se manifestou novamente, parecia tão severa quanto antes, mas desta vez aguda. Estava explícita a felicidade daquele ser ao ver a pequena criança acolhida pela casa como um rato com medo de sua presa. ─ Olá, ser imundo ─
Era um homem. Totalmente estranho aos olhos daquele jovem. Seu cabelo da cor do fogo que dançava sobre os corpos; seus olhos eram verdes e cada parte de seu corpo parecia ser desproporcional à outra. Simplesmente, um ser nada harmônico. Mesmo com pés grandes, tinha cerca de um metro à cinquenta centímetros de altura; com orelhas grandes e pontudas como às de um lobo; e mãos tão grandes quanto os pés, deixando assim, cada vez mais clara, a forma estranha daquele indivíduo.
─ Podes me ver? ─ Perguntou. Sabendo que não teria resposta alguma. Permaneceu fitando o garoto com um olhar psicótico, fazendo-o tremer perante sua face. Até finalmente se entediar. ─ Não consegue responder? ─ Interrogou. Mas não conseguiu conter a gargalhada que veio logo a seguir. Gargalhando como um louco, com sua risada impactante e ao mesmo tempo irritante, permaneceu por algum minutos.
─ Va-mos le-va-lo─ Disse pausadamente. Sendo possível sentir os restos de sua risada em sua voz. ─ Troveje meu nome, Frey O'Bugary ─ Gritou de maneira teatral, tocando seus sapatos pontudos, fazendo o colar em seu pescoço gritar como um sino. Um sino que marcava a morte e o medo.